A quem interessa um sindicato fraco?

A quem interessa um sindicato fraco?

 

Em tempos de negociação coletiva, é comum vermos uma movimentação curiosa – e preocupante – nas portas dos sindicatos laborais. São trabalhadores, muitas vezes desinformados, entregando cartas de oposição à contribuição negocial ou taxa assistencial. O mais alarmante: muitos desses atos acontecem durante o expediente de trabalho, com o aval – e até o incentivo – das próprias empresas. Tal liberação dificilmente ocorre para o trabalhador ir ao médico ou mesmo participar de um seminário, sem a ameaça de desconto do seu salário.

Há casos em que o Departamento Pessoal distribui as cartas modelos e orienta os trabalhadores a assinarem e levarem ao sindicato, com o claro objetivo de evitar o desconto em folha. Em algumas situações, as empresas chegam a oferecer transporte até a sede sindical. Um ato que fere diretamente a liberdade sindical e o direito de organização dos trabalhadores.

Esse tipo de interferência patronal caracteriza uma prática antissindical, que enfraquece a representação dos empregados e, por consequência, os instrumentos legítimos de defesa dos seus direitos. Afinal, para muitas empresas que não cumprem adequadamente as leis trabalhistas, um sindicato fraco é conveniente. Sem uma entidade forte que fiscalize, negocie e reivindique, fica mais fácil explorar a mão de obra.

Curiosamente, esses mesmos empregadores que orientam seus funcionários a enfraquecerem os sindicatos laborais, financiam e fortalecem os sindicatos patronais. Isso porque compreendem bem o poder da organização coletiva. Sabem que, unidos, conseguem pressionargovernos, influenciar mudanças legislativas e ampliar seus próprios benefícios. É o jogo da força e da representação: eles jogam juntos. E por que nós, trabalhadores, devemos jogar sozinhos?

Infelizmente, muitos ainda não compreendem que os direitos trabalhistas não foram concedidos de forma espontânea. Foram frutos de longas lutas sindicais, muitas vezes marcadas por repressão, perseguição e até morte. Direitos como 13º salário, vale-transporte, adicional de férias, licença-maternidade, fardamento, redução da jornada de trabalho e tantos outros nasceram da resistência organizada da classe trabalhadora.

Por isso, é necessário reafirmar: o sindicato não é um inimigo. É uma ferramenta de luta e proteção. É a estrutura coletiva que dá voz ao trabalhador frente ao poder econômico do empregador. Enfraquecer o sindicato laboral é enfraquecer a si mesmo. Fortalecê-lo é investir na própria dignidade, segurança e qualidade de vida.

Cabe a cada trabalhadora e trabalhador refletir: de que lado estou? De que lado quero estar quando direitos forem ameaçados, quando salários precisarem ser reajustados, quando a jornada de trabalho for excessiva ou o ambiente for inseguro?

A resposta não está no RH da empresa, nem no discurso patronal travestido de “preocupação com o seu salário”. Está na consciência de que apenas a organização coletiva pode garantir conquistas duradouras.

Portanto, participe do seu sindicato. Filie-se, acompanhe, fiscalize, proponha, lute. Porque o sindicato somos nós. E sem nós, não há luta. Sem luta, não há conquista.

Maciel Silva
Presidente SINTEST-CE
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